
A hérnia discal é uma das patologias sobre as quais os doentes me colocam mais questões,
na consulta de Ortopedia, não apenas por ser frequente, mas também pela curiosidade que
desperta.
Antes de mais, é importante explicar o que é uma hérnia discal. A coluna vertebral é
composta por dezenas de discos intervertebrais (desde o pescoço até à lombar) que
funcionam como pequenos “amortecedores”. Atendendo à carga a que estão sujeitos de
forma repetida, por vezes, a parte externa e rígida do disco - o chamado anel fibroso - sofre
uma rotura, que pode levar à saída do conteúdo mole - o núcleo pulposo - do disco. A esse
conteúdo extravasado chamamos de hérnia discal, e o mesmo pode comprimir um nervo ou
a medula espinhal.
Frequentemente, os doentes que chegam à consulta dizem-me: “tenho várias hérnias, há
muitos anos”. Nestes casos, procuro deixar clara a distinção entre hérnia e protusão discal,
muitas vezes confundidas: enquanto a primeira surge no contexto de um esforço, trauma ou
realização de gesto incorreto, a protrusão resulta do desgaste e desidratação progressivos
do disco, com a perda da capacidade de movimento e de absorção de choques. Acontece
que a maior parte das pessoas que apresentam queixas tipicamente associadas às hérnias,
tem, na verdade, protusões discais - apenas cerca de 2 a 3% da população tem realmente
uma hérnia discal.
Mas, afinal, quais são os sintomas? Os sintomas mais típicos são a dor no pescoço e/ou
nas costas, acompanhados de dor no braço ou na perna. Sinais como a perda de
sensibilidade ou de força nos braços ou pernas, dor que não melhora com analgésicos ou
outros sintomas neurológicos, são alertas que exigem observação médica e a realização de
exames complementares, como a ressonância magnética ou TAC.

Felizmente, em cerca de 90% das pessoas, o tratamento com analgésicos, fisioterapia e
repouso acaba por levar ao desaparecimento de sintomas, nas primeiras semanas. A hérnia
não vai entrar de novo no disco, mas, progressivamente, poderá ser reabsorvida. Em alguns
casos, não desaparece e pode calcificar com o passar do tempo.
O mais importante é controlar a inflamação, fator que está diretamente relacionado com as
dores. Isso explica que, mesmo nos casos em que a hérnia não desaparece, o doente deixa
de sentir dor, dada a redução da atividade inflamatória local.
Existem várias técnicas não cirúrgicas para controlar as dores, tais como a infiltração de
corticoides, ozonoterapia, radiofrequência ou laser, que poderão ter algum benefício.
Contudo, a única forma de realizar a remoção definitiva de uma hérnia discal, é o
tratamento cirúrgico - e, nos casos em que as dores persistem ou há perda de força ou de
sensibilidade nos membros, este deve ser ponderado.
Os procedimentos cirúrgicos têm evoluído, ao longo das últimas décadas, reduzindo-se
progressivamente as incisões e a agressão aos tecidos, com técnicas cada vez menos
invasivas. Entre estas, destaca-se a cirurgia endoscópica: trata-se de uma cirurgia em que
removemos a hérnia e descomprimimos o nervo ou a medula espinhal, através de uma
incisão inferior a 1 cm e usando um endoscópio (câmera). A utilização do endoscópio
permite uma melhor visibilidade e, até, mais segurança, dada a ampliação e qualidade de
imagem, durante a intervenção. Os doentes podem ser operados sem necessidade de
internamento e com toda a segurança, com perdas de sangue residuais e com um risco de
infeção próximo de 0%.
Alguns estudos demonstram que a cirurgia endoscópica tem resultados mais benéficos, a
curto e médio prazo, em comparação com as técnicas mais clássicas - e estou
absolutamente convicto de que será a técnica mais amplamente utilizada e reconhecida no
mundo, em menos de uma década, no tratamento das hérnias discais. Nos últimos 10 anos,
o número de publicações científicas relacionadas com esta técnica aumentou cerca de
500%, mostrando que é muito mais do que apenas uma tendência.
Apesar disto, o mais importante não é a técnica cirúrgica utilizada, mas sim a experiência do
cirurgião com a técnica que usa e o diagnóstico atempado das hérnias discais. Perante os
sintomas de uma lesão na coluna, não hesite em consultar o seu médico. O diagnóstico e o
tratamento precoces podem evitar complicações e melhorar a sua qualidade de vida.