Quase ninguém conhece esta história, mas é importante contá-la. Belas foi o local onde viveram reis, princesas, rainhas, onde a corte esteve presente. Em Belas existiu um paço real, um palácio entre a cidade de Lisboa e Sintra, um palácio onde viveram reis de Portugal.

E a história deste passo é intrincada, quase novelesca. Passou pelas mãos de um dos assassinos de D. Inês de Castro, Diogo Lopes Pacheco, mas mais tarde D. Pedro I confiscou-lhe o espaço e tornou-o residência oficial da corte. Séculos mais tarde, D.João I retomou-o e ali realizou grandes obras.

A sua fachada lembra o palácio de Sintra. Seguiu D. Duarte, D. Afonso V, D. Manoel I e depois a sua filha D. Beatriz e depois de D. Beatriz a herança calhou a um fidalgo.

Mas esta história já lá vamos, porque é uma história novelesca. O palácio foi deixado a D. Brites ou D. Beatriz, a mãe de D.Manoel I. Impôs-se num mundo de homens, geriu com mestria os seus domínios. Uma mulher de paz, negociadora das terçarias de Moura, em conjunto com a sua sobrinha Isabel,a católica, negociou o tratado de Alcáçovas e foi por isso que os herdeiros das coroas ibéricas ficaram à sua guarda nas famosas terçarias de Moura.

E o senhorio de Belas está diretamente relacionado com esta senhora tão importante na história de Portugal. Ela viveu em Belas, a mãe de D.Manoel I, e tinha a trabalhar consigo um homem da sua confiança, Rodrigo Afonso de Atouguia. E foi este homem que, à data da morte de D.Beatriz, herdou, por testamento, o paço real e as suas propriedades de Belas.

Porquê? Porque esteve sempre com ela, naturalmente, foi-lhe fiel. O testamento não diz tudo, mas diz o suficiente. Talvez um amor proibido, quem sabe? E assim o paço de Belas foi sendo herdado sucessivamente até ao quinto senhor de Belas.

Uma história de amor, poder e herança que mudou o destino de Belas. Depois de ter estado durante anos em ruínas, foi adquirido por um particular que fez obras, o transformou e hoje funciona como uma quinta para eventos. Um palácio real, um palácio sagrado para a nossa história, merecia ser um museu, merecia ser uma memória viva.

Cristina Leal

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