Um em cada cinco portugueses vive em risco de pobreza. Quem o afirma é a Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) no dia em que se assinala ao Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza através do relatório “Pobreza e Exclusão Social 2025”, do Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza. A EAPN Portugal “sublinha que o número absoluto de pessoas em risco se mantém, de forma persistente, acima dos dois milhões”.
Para a EAPN, isso demonstra que “a pobreza continua a ser um problema estrutural do país”, apesar de os dados estatísticos mais recentes mostrarem “uma redução significativa do risco de pobreza ou exclusão social, que atinge agora 19,7% da população — o valor mais baixo desde 2015”. “Ainda assim, cerca de 2,1 milhões de pessoas continuam nesta situação de vulnerabilidade, ou seja, um em cada cinco portugueses”, destaca a organização não-governamental (ONG).

De acordo com os dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR), do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos a 2023, e divulgados em dezembro de 2024, o risco de pobreza tinha diminuído 0,4 pontos percentuais em comparação com 2022, chegando aos 16,6%. Em 2023, a taxa de risco de pobreza correspondia à proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos (por adulto equivalente) inferiores a 632 euros por mês.
A EAPN destaca que “em Portugal, 1,76 milhões de pessoas encontram-se na situação de pobreza monetária — uma em cada seis pessoas” e aponta que “as mulheres continuam a ser a maioria (56%) “. Por outro lado, o relatório da EAPN alerta para o facto de mais de uma em cada três pessoas que estão em situação de pobreza viverem com rendimentos muito baixos, iguais ou inferiores a 422 euros por mês.
“As crianças são muito vulneráveis a este problema: 40% das crianças pobres vivem em agregados com estes rendimentos”, lê-se no documento, que acrescenta que a exposição das crianças a situações de pobreza severa “compromete trajetórias de inclusão social e económica ao longo da vida”.
Segundo o INE, a diminuição da pobreza foi visível nos menores de 18 anos e nos adultos em idade ativa, bem como na população empregada e desempregada, tendo as transferências sociais, relacionadas com a doença e incapacidade, família, desemprego e inclusão social, contribuído para que o risco de pobreza não chegasse a 21,4%. Sobre este dado, a EAPN sublinha que “apenas metade das pessoas em situação de pobreza, entre os 18 e os 64 anos, recebem rendimentos de prestações sociais” e refere que “Portugal continua a ser o terceiro país da União Europeia com menor impacto das transferências sociais na redução da pobreza”.
No entanto, o risco de pobreza aumentou para a população idosa e para a EAPN houve mesmo “um agravamento significativo nas condições de vida das pessoas idosas”. “Os reformados viram o seu risco [de pobreza] aumentar 19,9%, as pessoas com 65 ou mais anos registaram uma subida de 17,8%, e os muito idosos (75 ou mais anos) enfrentaram um agravamento de 22,7%”, salienta a EAPN. Acrescenta que “22,3% dos reformados, 23,8% das pessoas com 65 anos ou mais e 26,5% dos idosos com 75 anos ou mais estavam em risco de pobreza ou exclusão social”.
Segundo a EAPN, “a pobreza continua a ter uma clara expressão territorial” e ressalta que os Açores permanecem como a região mais vulnerável do país, com 28,4% da população em risco de pobreza ou exclusão social. No continente, é a península de Setúbal que se destaca como a região mais vulnerável (21,8%). Refere ainda que as áreas rurais e pouco povoadas continuam a registar taxas de pobreza mais elevadas (23,5%) do que as cidades densamente povoadas (17,5%), apesar de a maioria das pessoas em situação de pobreza viver em contextos urbanos.
Com este relatório, a Rede Europeia Anti-Pobreza Portugal defende um aumento do Rendimento Social de Inserção (RSI), destinado a pessoas em situação de pobreza extrema, para permitir que os mais pobres tenham uma vida digna.